Por trás das cenas com Mariana Kinoshita: quando os objetos constroem histórias

No universo do audiovisual, os objetos têm voz. São eles que traduzem o tempo, o contexto e as emoções de uma história, mesmo quando a narrativa é silenciosa.
Para entender como esses elementos ganham vida nas telas, conversamos com Mariana Kinoshita, produtora de objetos com trajetória marcante em cinema e TV, incluindo a sexta temporada de Sessão de Terapia.
Nesta entrevista, ela fala sobre pesquisa, processo criativo, parcerias e o papel dos objetos na construção da narrativa visual.
Quando falamos em produção de objetos para audiovisual, qual é o fator mais determinante na escolha dos itens?
MK: Na ficção, o ponto central é sempre o estudo da personagem e do universo narrativo que se deseja construir. Esse mergulho começa no roteiro e se amplia em pesquisas diversas, de filmes e livros a observações do cotidiano.
Quando essa etapa é feita com profundidade, o processo todo flui melhor. Tudo ganha coerência: o espaço, a paleta de cores, as texturas. É como se cada objeto soubesse exatamente o que está fazendo em cena.
Como se estrutura o processo de produção até a chegada dos objetos ao set?
MK: Cada projeto tem sua particularidade, mas existe uma linha comum. Começamos pelo estudo do roteiro e, a partir dele, construímos caminhos junto à direção de arte. Depois vem a decupagem: uma listagem minuciosa de cenários, móveis e objetos em planilhas e documentos de controle.
Na sequência, cruzamos essas informações com o orçamento e o plano de produção. Só então partimos para a pesquisa, seleção e aprovação dos itens. A montagem dos cenários é o momento em que tudo ganha corpo, e, após as filmagens, ainda há a desprodução, que exige tanto cuidado quanto o início.
É uma engrenagem complexa, que depende de organização e flexibilidade. O segredo é saber se adaptar às mudanças, sem perder a coerência visual.
Para quem não está familiarizado com esse universo: qual é a real importância dos objetos dentro de uma obra?
MK: Objetos são narradores silenciosos. Eles carregam contexto, tempo e memória. Um simples abajur, uma xícara ou um porta-retratos podem contar muito sobre quem habita aquele espaço.
Costumo propor um exercício: olhe ao redor e perceba o quanto os objetos do seu ambiente revelam sobre você, sua história, sua rotina, sua cultura. No audiovisual, é a mesma lógica, só que intencional. Cada escolha precisa ir além da estética e se tornar uma ferramenta de identidade e de verossimilhança.
Você assinou a produção de objetos da sexta temporada de Sessão de Terapia. Quais foram os principais desafios desse projeto?
MK: Foi uma experiência muito especial. Eu já havia trabalhado nas três primeiras temporadas, lá em 2012 e 2013, como assistente de objetos. Voltar agora, com novas responsabilidades, foi como revisitar um universo que eu já conhecia, mas sob outro olhar.
Produzir uma série de longa duração traz desafios únicos. Precisamos remontar cenários de 2018 e, ao mesmo tempo, criar novos ambientes. Foi um trabalho de equilíbrio: respeitar a identidade visual construída anteriormente, mas acrescentar novas camadas criativas.
A parceria com a direção de arte da Guta Carvalho, que acompanha a série há anos, foi essencial para manter essa coerência visual e emocional que o público reconhece.
Você tem uma parceria de longa data com o Acervo Utimura. O que torna essa colaboração estratégica?
MK: O Acervo Utimura é um parceiro estratégico porque une curadoria e logística de um jeito raro de encontrar. Existe um cuidado humano real, a equipe entende as necessidades do produtor e ajuda a encontrar soluções que otimizam o processo.
Essa combinação entre sensibilidade e eficiência operacional faz toda a diferença em produções complexas. Quando você sabe que pode confiar no acervo e na equipe, o fluxo se torna mais fluido e criativo.
Observando o mercado mais amplo, que conselho você daria para criadores de conteúdo digital que estão começando a explorar o audiovisual?
MK: O cenário é parte da narrativa, e isso vale para qualquer escala. Não é preciso um grande orçamento para criar identidade visual. Às vezes, escolhas pontuais e bem pensadas de objetos já transformam a percepção do público.
No universo digital, onde a imagem é central, pensar estrategicamente no ambiente é um diferencial. Mesmo em produções menores, esse cuidado reforça a persona do criador, gera conexão e fortalece a presença de marca.
No fim, os objetos falam.
Mais do que decoração, os objetos são pontes entre o visível e o simbólico. Eles constroem atmosferas, ampliam narrativas e dão textura à memória. No audiovisual, cada escolha — do móvel ao pequeno adorno, é uma chance de contar uma história sem precisar dizer uma palavra.









